quinta-feira, 29 de julho de 2010

Gerenciamento de Risco

Um acidente segundo Ramiro (Ramiro, J. M. Santamaría – “Análisis y reducción deriesgos en la industria química. Editorial Mapfre) “é qualquer acontecimento que implica num desvio intolerável sobre as condições de projeto de um sistema”. O processo de decisão sobre o nível de risco aceitável depende do objeto do estudo, em muitos casos pode ser complexo, por exemplo, no caso de perfurações em águas profundas, porque os objetivos são múltiplos e em ocasiões diversas, com muitas variáveis.

Nas aulas que ministro sobre Gerenciamento de Risco enfatizo bastante a questão da Confiabilidade, que é segundo Bastias, “a probabilidade que um subsistema (homens, equipamentos, instalações, etc), ou um conjunto destes sistemas, possa realizar satisfatoriamente o que foi planejado, num período de tempo pré-determinado”. Dedicamos especial atenção as defesas do sistema, que vão desde um simples manômetro, até sistemas mais complexos. A confiabilidade humana é a probabilidade de que uma pessoa realize de forma satisfatória uma tarefa determinada, sobre condições pré-estabelecidas.

No dia 20 de abril de 2010 o mundo foi surpeendido pela explosão da plataforma petrolífera Deepwater Horizon, no golfo do México, a hipótese mais provável que foi levantada sobre a causa do acidente, foi a de que a explosão foi provocada por uma bolha de gás metano que escapou do poço, foi lançada pela coluna de perfuração e se expandiu rapidamente porque rompeu várias barreiras e lacres de cimento antes de explodir. Ela afundou no dia 22 de abril, após ficar dois dias em chama, provocando danos ambientais gigantescos, que serão necessárias décadas para repará-los. A plataforma, que pertence à empresa suíça Transocean estava sendo operada pela BP.



Foto - Fonte: RIG EXPLOSION, FIRE and Going Down
MC_252 [Macondo Prospect] – BP had just set 7” casing in this well before it exploded and caught fire at 10:00 pm on the night of April 20, 2010. The No.1 well is still burning after it reached a total depth of 18,360’BPH (14.0#mwt) using the Deepwater Horizon rig. The location is 6940’ FNL & 1041’ FEL. The PTD is 20,600’. MOEX Offshore (10%) and Anadarko (25%) have the remaining working interest in this Deepwater Wildcat. Under the wave April 22 5:30PM


Os danos ambientais na área, provocados pelo derramamento de milhões de galões de petróleo bruto no golfo do México, chegou a muitos lugares, dentre eles, à Flórida e a mancha negra chegou nas restingas do Golfo do México. Além disto tivemos 11 trabalhadores que foram à óbito no acidente.

Estamos diante de uma catástrofe ambiental sem precedentes, trata-se de uma grande tragédia. A repercussão foi tão grande que Governo e Sociedade exigiram que a BP colocasse uma câmara submarina para transmitir ao vivo, em seu site o vazamento em tempo real. 



No dia 23/07/2010 fomos surpreendidos pela notícia abaixo.

Alarme foi desativado antes da explosão, diz ex-funcionário da BP
23/07/2010 - 17h11

DA FRANCE PRESSE, EM NOVA ORLEANS
Um alarme que teria advertido a equipe da plataforma Deepwater Horizon sobre um acúmulo de gás no poço, causador da explosão que, por sua vez, acarretou a maré negra, foi desativado meses antes da catástrofe, afirmou nesta sexta-feira (23) um ex-empregado.
O sinal, na forma de luzes e sons, advertiria sobre a presença de fogo ou um nível anormal de gases tóxicos ou explosivos, explicou Mike Williams, chefe dos técnicos em eletrônica da plataforma.
Ele compareceu em audiência ante as autoridades americanas para falar sobre as causas do pior desastre ecológico dos Estados Unidos.
Williams, que sobreviveu à explosão da plataforma no dia 20 de abril --11 pessoas morreram--, assegurou que as sondas funcionavam, mas não estavam ativadas nem programadas para serem acionadas em caso de urgência.
Dirigentes da plataforma explorada pelo grupo britânico BP haviam pedido que o alarme fosse desativado porque "não queriam que as pessoas fossem acordadas às 3 horas da manhã por falsos alertas", afirmou Williams.
Fonte: www.folha.com.br

Isto contraria tudo que aprendemos e tudo aquilo que divulgamos quando estamos construindo conhecimento para o Gerenciamento de Risco. Se o alarme tivesse ligado o acidente teria acontecido? Vamos ficar sem resposta, mas uma coisa é possível de se dizer, desliga-lo foi uma falha gravíssima.

Este acidente com certeza, apesar do seu estrago, vazamento contido, não acabará com a exploração de Petróleo em águas profundas, o que se espera é que grandes lições sejam tiradas e que a disciplina com relação a melhorias dos conhecimentos sobre a segurança do processo e do produto, uma Gestão de Mudança (modificações nas instalações, nos procedimentos de operação, ...) efetiva, maior informação à comunidade e maior rigor no Planejamento à Emergências e o Gerenciamento de Risco eficaz, sejam o caminho a ser seguido.

ARmando Campos

2 comentários:

Débora Brasil! disse...

Caramba! É inacreditável como uma empresa de um porte tão grande pode ter obtido imprudências tão agravantes e tão simples de serem executadas ao mesmo tempo. É evidente que o gerenciamento de risco deles estava deficiente e a falta de prevenção também! Melhor funcionários acordados as 3 da manhã, do que mortos no dia seguinte. Como o título do seu blog, a segurança tem que ser ilimitada, em todos os niveis e aspectos! Gostei muito dos seus comentários! Ass: Débora Brasil - Cabo Frio

Anônimo disse...

O que percebemos no desastre no Golfo do México é uma semelhança com o acidente que ocorreu na India, em 1984, (Bhophal), onde 40 toneladas de gases letais vazaram. O que ocorre é uma grande preocupação com a falta de petróleo, o preço no mercado interno, as baixas reservas nacionais, a produção agricola visando o lucro, sem a preocupação com o meio ambiente, com as futuras gerações. O que passamos hoje é fruto da ganância do passado e estavamos levando a nossos filhos a nossa falta de preocupação com o futuro.