sábado, 5 de setembro de 2015

“...QUERIA SER COMO OS OUTROS E RIR DAS DESGRAÇAS DA VIDA...”

Neste Blog no título faço uso de uma frase da música “A Via Láctea”, do genial Renato Russo. O trecho da música escolhida, diz assim: “Quando tudo está perdido, sempre existe um caminho, quando tudo está perdido, sempre existe uma luz, mas não me diga isso. Hoje a tristeza não é passageira, hoje fiquei com febre a tarde inteira, e quando chegar a noite
cada estrela parecerá uma lágrima. Queria ser como os outros e rir das desgraças da vida, ou fingir estar sempre bem, ver a leveza das coisas com humor, mas não me diga isso!. É só hoje e isso passa... Só me deixe aqui quieto, isso passa. Amanhã é outro dia, não é?. Eu nem sei por quê me sinto assim, vem de repente um anjo triste perto de mim, e essa febre que não passa e meu sorriso sem graça, não me dê atenção, mas obrigado por pensar em mim”. 

O título deste blog é uma crítica para aqueles que riem das desgraças alheias e que tem o poder de mudar este estado de coisas e não fazem, eu não quero rir de ninguém, mas me assusta saber de algo que falo à muitos anos virou realidade. Tenho sido surpreendido com notícias difíceis de aceitar, e a principal delas foi a publicação da pesquisa “Acidentes de trabalho no Brasil em 2013: comparação entre dados selecionados da Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE (PNS) e do Anuário Estatístico da Previdência Social (AEPS) do Ministério da Previdência Social”, que revela os dados comparativos entre essas duas Instituições, eles estão na tabela 1.

No entanto na mídia e nos fóruns de SST tenho visto pouca citação deste fato e do que ele representa. Esse é um perigo, uma vez que já banalizamos tanto essas situações adversas em que os problemas não são enfrentados, ou mesmo que o pensamento é que talvez eles nem existem. 

Tabela: Distribuição de pessoas com 18 anos ou mais de idade estimadas na PNS que referiram ter sofrido acidente de trabalho nos últimos 12 meses e número de acidentes de trabalho registrados na Previdência Social, segundo sexo, 2013.



O texto na análise da tabela 1, cita: “A PNS apontou quase sete vezes mais pessoas (6,89) que referiram terem sofrido acidentes de trabalho do que os dados sobre acidentes registrados pela Previdência, o que significa em termos percentuais, 589% a mais de acidentes”.

Na tabela 3 da pesquisa estão as maiores distorções, são elas

Tabela 3 - Distribuição de pessoas com 18 anos ou mais de idade estimadas que referiram ter sofrido acidente de trabalho nos últimos 12 meses na PNS e número de acidentes de trabalho registrados na Previdência Social, segundo unidade da federação, em 2013.


Analisando a tabela 3, os estados que apresentam as maiores distorções são: Maranhão (39,33), depois Pará (26,26) e o terceiro Tocantins (23,79), que estão com a relação PNS/Previdência cuja média é de 6,89.

Assim, porque esses dados tão diferentes? A pesquisa aponta o seguinte: “Qualquer comparação entre bases de dados com diferenças significativas, deve ser feita com a cautela necessária. A PNS abrangeu toda a população trabalhadora com 18 anos ou mais, incluindo empregados e empregadores, do mercado formal e informal, servidores públicos, militares e empregados domésticos, entre outros. Os dados da AEPS abrangem acidentes e doenças de trabalhadores apenas do mercado formal, com 16 anos ou mais, com vínculo empregatício regido pela CLT e segurados do Seguro de Acidentes do Trabalho. Os dados obtidos pela PNS são referidos por entrevistados, que tenham tido pelo menos um acidente e/ou doença ocupacional no ano de 2013, enquanto os dados da AEPS são de acidentes e doenças ocupacionais registrados pela Previdência Social. Os acidentes registrados pela Previdência Social incluem os de trânsito, que não foram considerados na PNS”. 

Apesar do escopo da pesquisa ir além do trabalho formal (AEPS), incluindo além destes: o informal, servidores públicos, militares e empregados domésticos, entre outros, o que gera uma amostragem muito maior do que a da Previdência Social, a diferença nos números é significativa, o que sinaliza que precisa haver é uma ação conjunta entre Governo, Empregadores e Comunidade, que fomentem um aprendizado consistente em SST - Segurança e Saúde no Trabalho. O Governo através de uma estratégia planejada, implementada e mantida executada de forma harmoniosa pelos Ministérios: da Previdência Social, o Ministério do Trabalho e Emprego, e o da Saúde; os Empregadores em razão de sua Responsabilidade Social divulgando a SST além de seu muro, de forma que chegue aos lares dos seus trabalhadores e da Comunidade em geral, seja através de Sindicatos, Associações de Classe, Centros Comunitários, Instituições de Educação pública e privada, entre outros. 

O que não pode continuar é esta “cegueira”, principalmente pela falta de Planejamento, de quem estar no comando não conhecer nossa realidade. 

Voltando a música do título: “...sempre existe um caminho” eu estou torcendo e fazendo minha parte para voltarmos à esse caminho porque “ele é um só”, como dizia o Renato Russo. 

Traduza este texto para sua realidade e faça comentários eu gostaria de recebê-los.

Abraços,

ARmando Campos


Referências:

www.fundacentro.gov.br/arquivos/projetos/boletimfundacentro12015.pdf

Anuário Estatístico da Previdência Social – AEPS 2013: www.previdencia.gov.br/estatísticas

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