segunda-feira, 5 de maio de 2014

VOCÊ TEM TÃO POUCA CHANCE, DE ALCANÇAR O SEU DESTINO É FÁCIL FAZER PARTE, DE UM MUNDO TÃO PEQUENO

No título faço uso de uma frase da música “Algum Dia”, de Pit Passarell, que o Capital Inicial canta. No trecho da música escolhido, diz assim: “Ninguém nunca te disse, como ser tão imperfeito, você tem tão pouca chance, de alcançar o seu destino. É fácil fazer parte, de um mundo tão pequeno, onde amigos invisíveis, nunca ligam outra vez, talvez até porque, ninguém ligue pra você”.

Quando sentei para escrever o Blog tinha acabado de ler na Revista Proteção nº 268, de abril de 2014, a matéria que apresentou as reivindicações do Setor Patronal para a NR 12, um resumo delas está na figura abaixo:


Figura: Reivindicações do Setor Patronal (Fonte: Revista Proteção nº 268/2014) 

Quando leio estas coisas não consigo entender tais argumentos, principalmente porque o Empregador aprovou o texto da NR 12 que foi pubicado em 2010, na Portaria nº 197 e além disto, em 2001 foi publicado um estudo que tem o título de “Máquinas e Acidentes de trabalho”, pelo Ministério do Trabalho e o Ministério da Previdência e Assistência Social, que faz parte da Coleção Previdência Social - v. 13, que diz o seguinte:

Portanto, o presente estudo apresenta:

- uma relação de maquinário obsoleto e inseguro, 

gerador de acidentes graves e incapacitantes, em 

pequenas e médias empresas, sua incidência e 

participação no parque industrial brasileiro.;


- um relatório-técnico documental sobre máquinas 

e equipamentos alternativos seguros,

que contém especificações técnicas, adequação 

tecnológica, acordos ou negociações coletivas

já desenvolvidas em áreas específicas, custo e 

condições de aquisição;


- disposições legais que favoreçam a prevenção de 

acidentes por meio da adequação da base tecnológica


Assim nove anos antes da publicação da NR 12 já se sabia das condições das Máquinas do nosso Parque Industrial, algumas com proteções e seguras e outras com sérios problemas por serem obsoletas e inseguras. Naquele período já existia cortina de luz, tapete, scanner, ..., mas em muitas máquinas eles não eram inseridos porque a legislação era “branda” com apenas 6 (seis) páginas e não tratava de forma explícita a obrigatoriedade de se ter um Sistema de Segurança, com falha segura, redundância e monitoramento.

Logo veio a minha lembrança uma situação que aconteceu na década de 90’, numa empresa Multinacional em que eu era Consultor de Segurança e Saúde no Trabalho. A história é a seguinte surgiu um serviço de Inspeção para ser feito nas duas Caldeiras Flamotubulares existentes na instalação. O profissional que realizou o serviço constatou que a Caldeira mais velha (estava com 27 anos) e precisava que fossem trocados doze tubos e o pressostato. Aprovado o orçamento o serviço foi realizado e a Caldeira voltou a atuar na forma de revezamento com a mais nova, que tinha só 12 (doze) anos.

Após algumas semanas houve uma Auditoria Internacional e um dos Auditores que era Engenheiro Mecânico, me questionou sobre o serviço realizado na Caldeira mais antiga, inclusive questionando há quanto tempo ela estava operando. Forneci todas as explicações e ele pareceu sair de lá satisfeito com o que ouviu. Para minha surpresa três semanas depois chegou uma empresa para fazer um serviço na referida Caldeira, questionei o Técnico em Segurança do Trabalho e ele me disse que eram ordens de cima. Fiquei intrigado com o tipo de serviço que iam fazer e cheguei lá no momento em que o maçariqueiro apontava a chama pro meio da Caldeira, a medida que o corte foi aprofundando fui vendo os tubos se separando, e assim foi feito a Caldeira tinha sido cortada ao meio, estava inutilizada e só poderia ser vendida como sucata. Uns dias depois liguei pro americano e questionei o porque daquilo e ele me disse textualmente: “Armando, esta Caldeira está paga, ele deveria ter funcionado até os 25 anos e continuou por mais mais dois anos, ela passou pelo processo de depreciação, agora vamos comprar outra”. Eu insistente perguntei porque ele não a vendeu, e mais uma vez ele ponderou: “se fosse vendida poderia ocorrer um acidente na empresa do novo dono, nós seríamos Co-responsáveis, não vale a pena correr este risco”.

Diante desta história me questiono se as máquinas no Brasil estão passando pelo processo de depreciação?. Outro dia numa cidade da região Sul me mostraram uma foto de uma Prensa Chaveta, que já deveria estar sucateada com uma “armadura” e funcionando, o pior é que o custo disto foi de R$ 15.000,00, a NR 12 estava atendida. 

O problema é que no fogo cruzado desta história está o trabalhador e os acidentes com máquinas e equipamentos continuam acontecendo, alguns exemplos são:

1) Funcionária de supermercado perde a mão no trabalho, em Sorocaba/SP, em 

24/12/2013.

2) Durante trabalho, homem é achado morto debaixo de máquina em Patos de 

Minas/MG, em 02/01/2014.

3) Operário morre após ser atingido (caiu em cima dele) por elevador em Belém/PA, 

em 10/01/2014.

4) Técnico morre prensado por elevador em Belo Horizonte/MG, em 13/01/2014.

5) Gari imprensado em caminhão do lixo tem perna amputada, em Salvador/BA, em 

17/01/2014.

6) Auxiliar de serviços morre (atingido por uma tampa de reboque de um caminhão 

que se soltou) em acidente de trabalho em Tatuí/SP, em 21/01/2014. 

7) Operário morre prensado por máquina de chantilly em São Paulo/SP, em 

27/01/2014.

8) Açougueiro tem a mão moída durante trabalho, em Sorocaba/SP em 29/01/2014. 

Depois eu pego a Revista Proteção para ler e estão lá na coluna Radar das de março e abril, os seguintes acidentes:


Quadro 1: Acidentes com Máquinas (Fonte: Revista Proteção nº 268 - abril 2014)


Quadro 2: Acidentes com Máquinas (Fonte: Revista Proteção nº 267 - março 2014)

O que dizer disto tudo, é que é “um mundo tão pequeno”, “talvez até porque, ninguém ligue pra você”.

Traduza este texto para sua realidade e faça comentários eu gostaria de recebê-los.

Abraços, 

ARmando Campos


Referências: 

Revista Proteção nº 268, de abril de 2014 

Revista Proteção nº 267, de março de 2014 

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