quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

THE KISS THAT MADE ME CRY


Hoje eu acordei, tomei meu café como faço todos os dias, vou para o computador e entro na internet e me deparo com a seguinte notícia:

Mortos em incêndio em Santa Maria já são 245

Tássia Kastner | Agência Estado
A Brigada Militar reportou 245 mortos no incêndio que atingiu a boate Kiss, em Santa Maria, região central do Rio Grande do Sul, na madrugada deste domingo. Todos os corpos já foram retirados do local do incêndio.
Os corpos estão sendo levados para o ginásio municipal da cidade para a identificação. O velório das pessoas será realizado no local. Além dos mortos, 48 pessoas seguem em hospitais e a polícia não sabe informar o estado de saúde delas.

Fonte: http://atarde.uol.com.br/brasil/materias/1480619

Fechei os olhos e me lembrei de mais ou menos um ano atrás em que noticiei que na madrugada do dia 19/02/2012 durante um show no Clube Gaúcho, localizado na cidade de Santo Ângelo, a 459 quilômetros de Porto Alegre, onde morreu o cantor Enio Knak Júnior, de 27 anos, que sofreu uma descarga elétrica, ele se apresentava com o irmão, com o qual formava a dupla sertaneja Júnior e Marcel, na cidade de Santo Angêlo, lá do Rio Grande do Sul. Ele jovem (27 anos) ainda morria de forma “acidental”, na época o título do Blog era “Ninguém faz nada?”, de 22 de fevereiro de 2012. No Blog fiz as seguintes perguntas:


O que se pode dizer disso tudo?

Que não aprendemos nada?

Quanto tempo demora uma Análise de Risco?

Quanto custa um trabalhador qualificado e autorizado para trabalhar com eletricidade?

Quanto vale uma vida?

Quantas pessoas ainda vão morrer nesses eventos?

A Prefeitura poderia mandar alguém fiscalizar esses eventos?

A penúltima e a última questão foram respondidas neste final de semana, hoje (28/01) oficialmente foi divulgado que das vítimas do incêndio na Boate Kiss já tinham sido contabilizados 236 mortos e por outro lado ninguém foi lá fiscalizar (alguém não leu o que escrevi). 

Minha primeira reação após saber da notícia foi ligar a TV, onde fiquei ouvindo na Globonews o Professor Moacyr Duarte falar sobre as possíveis causas do incêndio, algumas variáveis foram levantadas, dentre elas: carga de Incêndio, área da boate, número de pessoas, sinalização e saídas de emergência, iluminação de emergência, forro rebaixado .... No G1, a origem “Segundo informações preliminares, o fogo teria começado por volta das 2h30, depois que o vocalista da banda que se apresentava fez uma espécie de show pirotécnico, usando um sinalizador. As faíscas teriam atingido a espuma que faz o isolamento acústico no teto do estabelecimento e as chamas se espalharam” (FONTE: http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2013/01/numero-de-mortos-em-incendio-em-santa-maria-chega-180-diz-policia.html).

Depois entrou o Datena, o que elevou a audiência da Band nos domingos e todas as TVs começaram a noticiar, e a audiência de todos foi subindo, ou seja, era o povo demonstrando o interesse pelo caso. Assim as TVs procuraram especialistas para opinar, engenheiros, especialistas em Gerência de Risco, Médicos, Bombeiros, e colocaram links ao vivo de Santa Maria e aquela tragédia começou a invadir retinas e o áudio a chegar nos ouvidos dos telespectadores, fazendo com as pessoas não conseguissem processar direito a notícia. Um fato midiático, falando de culpados, de responsabilidades, de falta de gerenciamento, de falta de leis mais duras, de que não tinha alvará, etc. Todas ao calor das notícias, cercadas de ilações de que alguém disse isto e disse aquilo, inclusive de sobreviventes que antes do evento, não conseguiram enxergar que não havia como sair dali no caso de um sinistro. 

A fala dos sobreviventes é muito importante para os peritos que vão participar da investigação deste acidente, uma vez que logo após ao evento, porque existe uma tendência de se esquecer de fatos que o colocaram em perigo, e ela deve ser colhida em função do que eles presenciaram, do que aconteceu, de como foi vivenciar isto, sem entrar no mérito de emitirem opiniões sobre o fato ocorrido, por não terem informações fundamentadas, para sua construção. 

Em seguida voltei para a Internet e procurei no noticiário internacional, estava tudo lá, no Whashington Post (USA), no The Guardian (Inglaterra), no Le Mond (Francês).

Mas foi no “El País” (Espanha), que entrei informações mais detalhadas:

http://internacional.elpais.com/internacional/2013/01/27/actualidad/1359296415_766940.html

No site do Jornal “El País” tem uma lista com os incêndios anteriores ocorridos em discotecas, clubes e bares no mundo desde 2000, são eles: 

a) 25 de dezembro de 2000. CHINA: 309 mortos num incêndio que arrasou um complexo comercial e uma discoteca em Luoyang (Centro). 

b) 1 de dezembro de 2002. VENEZUELA: 50 mortos em um Clube noturno em Caracas.

c) 20 de fevereiro de 2003. EE.UU. 100 mortos e 200 feridos em um Clube em West Warwick (Rhode Island).

d) 1 de dezembro de 2004. ARGENTINA: 194 mortos e 375 feridos em uma discoteca de Buenos Aires, onde cerca de 2.000 jovens assistiam a um concerto de rock.

e) 20 de setembro de 2008: CHINA: 44 mortos e 87 feridos em um incêndio num Clube noturno em Shenzhen (Sul) causada por fogos artificiais no interior.

f) 1 janeiro de 2009. TAILANDIA; 66 pessoas que celebravam o Ano Novo em um Clube noturno de Bangkok morreram em um incêndio provocado por fogos artificiais.

g) 4 de dezembro de 2009. INDONÉSIA: 20 pessoas faleceram em um fogo iniciado em um Clube de Karaokê, localizado em um complexo comercial em Medan (Sumatra do Norte).

h) 5 de dezembro de 2009. RÚSSIA - 155 mortos no incêndio provocado por fogos de artifícios em um Clube noturno em Perm (Urais, 1.200 quilômetros a oeste de Moscou).

i) 27 de janeiro de 2013. BRASIL: Ao menos 245 mortos e mais de cem feridos após um incêndio no Clube noturno Beijo, Santa Maria (estado de Rio Grande do Sul).


Na lista já estava o incêndio da Boate Kiss, que em termos de óbitos só é ultrapassado pelo ocorrido na China em 2000, já estamos nas estatísticas mundiais.

O governo brasileiro tem feito um esforço grande, para que, no lhe cabe, minimizar as consequências destas tragédias que temos enfrentado. No caso da Boate Kiss, houve prontidão e toda uma logística planejada para o enfrentamento da situação, que ainda deve ficar mobilizada por alguns dias.

As autoridades lá do Rio Grande do Sul, principalmente o Ministério Público já estão tomando as providências cabíveis, inclusive solicitando a prisão dos culpados (o que já foi feito). No entanto é preciso ir mais fundo para investigar a origem deste acidente, para que se aprenda algo com ele e que recomendações (para: leis, concessão de alvarás, material, prevenção ativa contra incêndio, ...) sejam propostas para que ele não volte acontecer em nenhum lugar deste país.

Aos peritos que vão investigar o incêndio na Boate Kiss que ao fazerem uma análise criteriosa vão chegar ao que realmente gerou este incêndio, uma vez que a gama de variáveis a serem exploradas é muito grande. Algumas perguntas precisam ser respondidas, dentre elas estão: 


1) Como foi a primeira vistoria para o primeiro alvará dos bombeiros, da Boate Kiss? (estava tudo Ok!)

2) Como foi a segunda vistoria para o segundo alvará dos bombeiros, da Boate Kiss? (estava tudo Ok!)

3) Rebaixar o forro foi a única alteração significativa no ambiente da Boate?

4) Qual a especificação do material pirotécnico usado pela banda?

5) Se o palco ficava no fundo do prédio, como os músicos da banda conseguiram chegar na saída (só um ficou entre as vítimas fatais), sendo que nenhum deles está internado?

6) Qual a especificação do material do isolamento acústico? Houve projeto para instalação do mesmo?

7) Quantos extintores portáteis eram necessários e quantos estavam no dia da Tragédia?

8) Havia Brigada de Incêndio no local?

9) As linhas elétricas eram constituídas por cabos fixados em paredes ou em tetos, ou constituídas por condutos abertos, os cabos devem ser resistentes ao fogo sob condições simuladas de incêndio, livres de halogênio e com baixa emissão de fumaça e gases tóxicos? 

Este “Kiss” me fez chorar, minhas condolências as famílias que perderam seus entes queridos, muita luz, fé, carinho e conforto para suportar esta dor, este “vazio”, que nos pega despreparados e com poucas forças para enfrentar esta nova realidade. Vou continuar rezando pelos que se foram, pelos que ficaram, pelos que ainda estão lutando para ficar (os que estão internados) e que eu não tenha mais que escrever que “Ninguém faz nada?”
Traduza este texto para sua realidade e faça comentários eu gostaria de recebê-los. 

Abraços,

ARmando Campos


Um comentário:

RODRIGO TST disse...

Boa tarde!

Sr Armando Campos, estamos a dois meses em função da elaboração da analise de risco, já protocolamos várias analises contemplado o que se pede e o auditor não aceita.

Gostaria de saber se o Sr como colaborador desta norma poderia nos ajudar.

Sou TST aqui na cidade de Capão da Canoa rs.

Rodrigo Santos dos Santos

REG. MTE/RS - 10485