segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

RISCOS EMERGENTES, NÓS ESTAMOS CONVIVENDO COM ELES

A Organização internacional do Trabalho em 2010, publicou o “Riscos emergentes e novas formas de prevenção num mundo de trabalho em mudança”. Nele está um alerta de que “Ao longo das últimas décadas tiveram lugar progressos tecnológicos importantes nos locais de trabalho; progressos que, associados a uma rápida globalização, transformaram as condições de trabalho de muitas pessoas no mundo inteiro”. 

Assim esses novos paradigmas repercutem na Organização do Trabalho, repercutindo na SST – Segurança e Saúde no Trabalho criando fatores de risco, que em sua grande maioria não estão sendo monitorados na grande maioria das empresas brasileiras, e por consequência, não tem defesas construídas para minimizar seus impactos. 

No quadro abaixo estão alguns exemplos de Riscos Emergentes:


Fonte: Relatório «Risques nouveaux et émergents liés à la sécurité et à la santé au travail», Observatório Europeu de Riscos, Agência Europeia para a segurança e a saúde no trabalho,Dezembro de 2009. http://osha.europa.eu/fr/publications/outlook/ fr_te8108475enc.pdf

Nas novas condições de trabalho alguns destes riscos são: 

Ø riscos biológicos e biotecnologias, por exemplo agricultores com o uso de organismos geneticamente modificados ... 

Ø riscos químicos: várias descobertas em estudo revelam que alguns produtos tem efeitos maiores que o que se imaginava, dentre eles estão: alergênicos, no efeito reprodutivo, mutagênicos, sensibilizantes, cancerígenos, .... No Brasil a NR 26: Sinalização de Segurança, tem como requisitos que os trabalhadores sejam treinados em Rotulagem e FISPQ – Ficha de Informação de Segurança de Produtos Químicos, inclusive emergências. Outros exemplos são as Nanotecnologias e os nanomateriais manufaturados. 

Ø Trabalhadores migrantes no mercado de trabalho brasileiro, devido principalmente a situações econômicas em seus países. Isto tem um desdobramento de muitas variáveis, dentre elas estão: com muita oferta baixam os salários; problemas de comunicação por não entendimento de algumas palavras, podendo levar a acidentes; maior tempo para adaptação às condições de trabalho; prazos maiores de aclimatação, .... 

Ø Aumento da expectativa de vida dos trabalhadores, isto tem repercussão devido terem convivido com dois períodos distintos, um o de trabalhar para produzir com a SST em segundo, terceiro ou quarto plano e o outro trabalhar com a SST no mesmo status da produção. Algumas resistências precisam ser vencidas, uma vez que estes, são mais resistentes à mudanças; são mais susceptíveis a a doenças e à lesões músculo esqueléticas; também são memórias vivas do que aconteceu naqueles locais de trabalho, com experiências ricas para serem aproveitadas na Gestão de Riscos, principalmente para definir a frequência deles. Corre paralelo a isto o FAP, que reduz o valor da Aposentadoria se ele não cumprir as regras do governo, fazendo com que o trabalhador fique mais tempo nos locais de trabalho, coisa que em alguns casos ele não quer. 

Ø Contratação de trabalhadores jovens: muitas empresas tem optado em demitir funcionários mais antigos com salários de “razoáveis a bons”, para contratar gente mais jovem, com salário menor, sem dosar direito esta química, o que acaba gerando conflitos e disputas internas que só levam ao desperdício de energia e a retrabalho. 

Ø Condições de trabalho específicas: As Normas Regulamentadoras em geral são “guarda chuvas” que não contemplam tudo, por exemplo, as diferenças entre homens e mulheres, quais as atividades que mulheres e homens podem desenvolver? 

Ø Factores psicossociais e de stress relacionados com o trabalho: Os riscos psicossociais estão em qualquer atividade aqui no Brasil e no Mundo, estão relacionados à Organização do Trabalho, dependendo da cultura existente e da definição de competências relacionadas e capacitadas, podem surgir problemas nas relações de trabalho, tais como, bullying (humilhação), mobbing (assédio psicológico), medo de perder o emprego, falta de entendimento do seu papel na organização, entre outros. O stress relacionado ao trabalho, pode provocar doenças músculo esqueléticas e outras formas de doença: hipertensão, úlceras, doenças cardiovasculares e neurológicas. Além disto pode levar o trabalhador ao uso de drogas, consumo de cigarros, uso de álcool e outros problemas difíceis de se lidar. 

Quem chegou até aqui sabe que em sua empresa diversos destes problemas citados estão presentes, de forma latente, sem que exista uma forma de identificação sistemática, uma prevenção e o efetivo gerenciamento deles. Assim é necessário um esforço coletivo para que se amplie o foco dos fatores de risco, que eles de uma forma organizada e orquestrada sejam introduzidos até que permeiam e fluam como os outros riscos. Os riscos emergentes precisam de um “start” para que eles se integrem a este gerenciamento, sem que exista o medo deles serem complexos e com muitas variáveis. 

Já percorremos um longo caminho, com derrotas e vitórias, mas estamos num processo de evolução, a presença destes riscos não pode passar sem a devida atenção, é preciso estar sempre alerta e de prontidão para minimizar a presença deles e dos outros já identificados. 

Os Riscos Emergentes estão por perto esteja antenado, conheça sua realidade e comece a produzir defesas confiáveis e parta do princípio que eles precisam ser “domados”, cultive novas formas de prevenção, participe de fóruns, de cursos, vá à Seminários, Encontros, Congressos, Jornadas, .... e compartilhe conhecimentos na Internet, principalmente aqueles que tenham origem acadêmica. Veja o que já deu certo e mantenha, criando de tempos em tempos os ajustes necessários. 

Lembre-se: Riscos Emergentes nós já estamos convivendo com eles. Enfrente-os. 

Bom, agora chega de falar de questões técnicas sobre a SST, estamos no final de ano, e eu já estou de férias, estou aqui na minha terra (Belém/PA), hoje (19/12) caiu uma chuva muito forte, me deu vontade de me molhar, mas não fiz, o momento é de reflexão, de reter e aplicar os ensinamentos aprendidos em 2012 e de se preparar para as novidades que vem em 2013, para nos colocar em provas desta vida, que de vez em quando nos proporciona contornos inesperados devido à um enredo envolvente e que acaba influenciando na nossa atitude. 

À todos os leitores e seguidores deste Blog um:


Traduza este texto para sua realidade e faça comentários eu gostaria de recebê-los. 

Abraços

ARmando Campos

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

A FALTA DE GESTÃO, É INIMIGA DA PERFEIÇÃO.

O provérbio é “A pressa é a inimiga da perfeição”, fiz uma adaptação para o que quero dizer , mas é claro que a perfeição não existe, o uso do termo está mais para o que o poeta Gilberto Gil diz na canção “Meio de Campo”, “...Eu continuo aqui mesmo aperfeiçoando o imperfeito, dando tempo, dando um jeito, desprezando a perfeição, que a perfeição é uma meta, defendida pelo goleiro ...”. 

No mundo prevencionista brasileiro é comum se falar de gestão, muito disto em função de três fatores: cobrança de resultados (ex: FAP, Acidentes, Infrações de NR, ...), das Normas Regulamentadoras já publicadas e também agora pela expectativa de itens específicos sobre Gestão na NR 01.

Entretanto como o dia a dia do SESMT é muito intenso, cheio de problemas para resolver, fazendo com que eles fiquem imersos neste contexto, sem tempo para buscar referenciais e alternativas para estas situações. 

Quebrando o paradigma de se buscar coisa pronta, o negócio é garimpar, sempre “de olho” na maturidade de SST da sua organização, para se ter uma ideia clara do que pode ser experimentado para minimizar os “erros” da Gestão de SST.

Começando o garimpo recomendo alguns referenciais que estão no site da ISO, que sempre tem várias dicas que podem ser usadas como base.     


Figura: www.iso.org

 Na figura 1 temos uma parte do site da ISO, do lado direito estão as Normas chamadas Populares, as mais conhecidas são: 9001 (Qualidade), 14000 (Ambiental), 26000 (responsabilidade Social), 22000 (Segurança Alimentar), etc. 

No entanto o maior interesse da SST é o Risco e sua Avaliação, por isto no site da ISO, tem uma que merece destaque e está no topo das Normas Populares, que é a ISO 31000, que no Brasil foi traduzida pelo CB da ABNT como, NBR ISO 31000 – Gestão de Riscos - Princípios e diretrizes. A norma define risco como, “efeito da incerteza nos objetivos” e depois passa a explicar o que é efeito, o que é incerteza e diz que os objetivos podem ser financeiros, saúde e segurança e ambientais. Assim esta Norma passa a ser o referencial de Risco, pois serve para a gestão integrada da organização. 

Ao clicar em ISO 31000, aparece o artigo “The risk management toolbox”, de Maria 

Lazarte & Sandrine Tranchard, postado em 15 Março 2010. Ao comentar o que a norma pode proporcionar, cita:


“.... é projetada para ajudar as organizações a:

· Aumentar a probabilidade de atingir os objetivos 

· Incentivar a gestão pró-ativa 

· Esteja ciente da necessidade de identificar e tratar riscos em toda a organização 

· Melhorar a identificação de oportunidades e ameaças 

· Cumprir os requisitos legais e regulamentares e as normas internacionais 

· Melhorar o relatório financeiro 

· Melhorar a governança 

· Melhorar a confiança dos stakeholders e confiança 

· Estabelecer uma base confiável para a tomada de decisão e planejamento 

· Melhorar os controles 

· Alocar e utilizar os recursos para o tratamento de risco 

· Melhorar a eficácia operacional e eficiência 

· Melhorar a saúde e desempenho de segurança, bem como a proteção do ambiente 

· Melhorar a prevenção de perdas e gerenciamento de incidentes 

· Minimizar as perdas 

· Melhorar a aprendizagem organizacional 

· Melhorar a resiliência organizacional.”


Um complemento para a ISO 31000, é a ISO Guide 73:2009: Gestão de riscos - Vocabulário, ela fornece um conjunto de termos e definições relativas à gestão de risco. 

Outro novo paradigma é a Norma ISO/IEC 31010, ainda não traduzida para o português que apresenta um matriz para seleção de ferramentas de análise de risco, dentro dos critérios do Processo de Gerenciamento de Risco. 

No processo de seleção de cara ferramenta, usa três critérios: fortemente aplicável, aplicável e não aplicável, para os seguintes fatores: identificação, probabilidade, consequência, nível de risco e avaliação. 

No seu site a ISO faz a seguinte abordagem para as duas normas: 

A ISO 31000:2009, Gestão de Riscos - Princípios e diretrizes, que está traduzida no Brasil pela ABNT, com o título de NBR ISO 31000:2009, trata dos princípios, apresenta o processo de gestão de risco. Ela pode ser usada por qualquer tipo de organização independentemente do seu tamanho atividade ou sector. Ela pode ajudar as organizações a aumentar a probabilidade de atingir seus objetivos, melhorar a identificação de oportunidades e ameaças e efetivamente alocar e usar os recursos para o tratamento de risco. Organizações que a adotarem podem comparar as suas práticas de gestão de risco com uma base tecnica de referência reconhecida internacionalmente, proporcionando bons princípios para uma gestão eficaz e governança corporativa. 

A outra base é a ISO / IEC 31010:2009, Gestão de riscos - Técnicas de avaliação de risco. Esta norma concentra-se na avaliação de risco, propriamente dita, inclusive disponibiliza para cada Ferramenta, quais os dados necessários na entrada para análise, seu uso, pontos fortes, limitações da ferramenta e o resultado final da análise. A Avaliação de riscos ajuda na tomada de decisão e a compreender os riscos que possam afetar a realização dos objetivos, bem como a adequação dos controles já existentes.


Fonte: www.iso.org

O passo a passo do processo de Gerenciamento de Risco está na figura 2.

Figura 2: O processo de Gerenciamento de Risco (fonte: ISO 31000, 2009)
  
Na figura 2 estão os elementos para o processo de Gerenciamento do Risco. O início é quando se estabelece o contexto, no nosso caso SST, depois vem a identificação do risco, seguindo o fluxo, temos a análise do risco, que é onde vamos estimar o risco, estabelecer probabilidade X consequência, estabelecer um Nível de Risco e as Medidas de Controle necessárias. O próximo passo é a Avaliação do Risco, que é a tomada de decisão, se o risco precisa ou não ser tratado, se resposta for sim, parte-se para o tratamento do risco. Note-se que as duas colunas laterais estão inter-relacionadas (seta de duplo sentido) e alinhadas a cada passo do processo, de um lado o monitoramento e as revisões e do outro a comunicação e a consulta. 

Risco e Análise de Risco estão na ordem do dia e você não pode deixar de aplicar esses conceitos destas duas Normas da ISO, para implementar melhorias ao seu processo, integrando uma Gestão de SST, mais robusta e forte, mas principalmente vigilante em todo o tempo e espaço. 

O poeta Paulinho da Viola já dizia “As coisas estão no mundo, só que eu preciso aprender”. Lembre-se disto e tente fazer o seu melhor. 

Traduza este texto para sua realidade e faça comentários eu gostaria de recebê-los. 

Abraços 

ARmando Campos