segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

NINGUÉM FAZ NADA?


Alguns anos atrás, não vou saber precisar o ano, eu estava de férias com meu filho (tinha de 12 para 14 anos na época) na linda cidade de Fortaleza/CE. Minha rotina era ir à praia cedo, depois voltava pro Hotel e lá pelas 13:00 eu voltava e o Daniel estava acordando, aí é que saíamos para curtir a cidade, ele queria ficar acordado até as 4:00 horas da manhã, mas eu sempre conseguia ir mais cedo pro Hotel. Foram dias de muita conversa, entre pai e filho, ele gostava demais de Rock (gosta até hoje) e eu dizia para ele que existiam outros ritmos, outras coisas boas de se ouvir. E surgiu a minha chance, vi uma programação e convidei ele, que relutou um pouco, mas cedeu mais para ter a companhia do pai, pois eu estava decidido a ir. 

Chegou à noite e lá fomos nós pro Centro Cultural Dragão do Mar, onde ia acontecer uma apresentação do Arthur Moreira Lima, chegamos cedo sentamos na arquibancada longe do palco e continuamos nossa prosa, até que ouvimos um grito eu olhei pro palco e vi um sujeito caindo, saquei na hora o que estava acontecendo peguei na mão dele e comecei a correr em direção ao palco, mas como estava distante demorei a chegar e no caminho vi uma senhora de uns 1,60 metros voar pro palco e começar a respiração boca a boca e a massagem cardíaca, uma RCP ao vivo. 

A vítima estava fazendo uns retoques nos refletores quando tomou o choque elétrico, ele estava de cinto paraquedista, que não estava preso em lugar nenhum, isto foi sua sorte, pois a gravidade o empurrou pro chão e alguém no palco amorteceu sua queda e a doutora ficou uns 40 a 50 minutos fazendo a RCP até chegar a ambulância. Depois não acompanhei o desfecho desta história. 

O Arthur Moreira Lima, que acho não soube de nada, pois quando chegou tudo estava normalizado, fez um show lindo desses que você gostaria de ver muitas vezes nesta vida. Meu filho gostou, mas o papo o resto da noite quando saímos de lá foi sobre o acidente, ele ficou impressionado e pode entender um pouco o que é segurança no trabalho e o que o pai faz. 

Você deve estar se perguntando por que o Armando está lembrando disto tanto tempo depois? Estou lembrando porque aconteceu de novo e deve ter acontecido tantas outras vezes neste intervalo de tempo, que nem me dei conta disto. 

Na madrugada do dia 19/02 durante um show no Clube Gaúcho, localizado na cidade de Santo Ângelo, a 459 quilômetros de Porto Alegre, morreu o cantor Enio Knak Júnior, de 27 anos, ele se apresentava com o irmão, com o qual formava a dupla sertaneja Júnior e Marcel, eles já atuavam a mais de 10 anos juntos. Segundo informações registradas no boletim de ocorrência sobre o caso, o acidente aconteceu por volta das 2h30, quando o cantor caiu próximo a uma escada metálica que dava acesso ao palco. Ele sofreu uma descarga elétrica, estava com o corpo molhado, segundo a NBR 5410: Instalações Elétricas de Baixa Tensão - influência externa BB3, isto significa baixa resistência elétrica . Ele chegou a ser levado para um hospital da cidade, mas não resistiu e morreu no local.



Foto: Perito no local onde ocorreu o acidente (Fonte: G1 RS – RBS TV) 


A perícia que foi realizada no local no dia 21 de fevereiro de 2012 pela polícia no Clube Gaúcho, em Santo Ângelo, segundo o site www.g1.globo.com, aconteceu da seguinte forma: 

“Engenheiros eletricistas do Instituto-Geral de Perícias (IGP) 
analisaram durante cerca de uma hora e meia o local, que 
estava lacrado desde o acidente. O trabalho foi acompanhado 
por representantes da delegacia de Polícia Civil que investiga o caso e por diretores do clube. 

De acordo com os peritos, uma estrutura metálica que sustenta os holofotes no palco estava energizada. O cantor teria recebido 
a descarga elétrica ao apoiar a mão nessa estrutura e encostar 
outra parte do corpo em outra estrutura metálica da escada que 
fica ao lado do palco. Com a força do choque, ele foi arremessado 
em cima de uma caixa de som. 

A estrutura de som e luz é de propriedade da própria banda e 
foi instalada pela equipe de apoio da dupla. “Constatei que, 
entre esta parte descascada e algumas partes descascadas aqui 
da estrutura treliçada, há 220 volts de diferença de potencial, de 
tensão. Mas isso não basta. É preciso verificar se passa 
corrente elétrica. Pra isso eu fiz um teste prático com uma 
lâmpada de 60 watts. Eu coloquei uma lâmpada e ela acendeu. 
Isso é o suficiente pra dizer que este local oferece condições 
de levar uma pessoa ao óbito”, explica o perito, Flávio Kurkowski.” 


Diante deste quadro podemos fazer algumas perguntas:

O que se pode dizer disso tudo?

Que não aprendemos nada?

Quanto tempo demora uma Análise de Risco?

Quanto custa um trabalhador qualificado e autorizado para

trabalhar com eletricidade?

Quanto vale uma vida?

Quantas pessoas ainda vão morrer nesses eventos?

A Prefeitura poderia mandar alguém fiscalizar esses eventos?


O que fica é a dor de mais uma família, em consequência de um evento adverso, principalmente neste caso em que o pai dos cantores também é um ex-músico. Numa ilação devido ao tempo da dupla atuar junto, esta condição deve ter existido por várias apresentações. e não acontecia nada, até que um dia o pior aconteceu. 

O Brasil é um pais de festa, de shows, será que se fosse feita uma inspeção nos locais onde acontecem este tipo de evento, nós não acharíamos várias situações irregulares, sem pensar muito, em muitos casos a resposta seria “sim”. Neste caso qual seria a consequência - show cancelado, não, estamos no Brasil e vamos dar um jeitinho, ninguém vai assumir o prejuízo. 

Preparem o lenço ainda vamos chorar e lamentar muito. 

Traduza este texto para sua realidade e faça comentários eu gostaria de recebê-los. 

Abraços

ARmando Campos

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Eventos para o mês de Março em Belém/PA. Garanta já a sua vaga!

Seminário NR12 - Segurança em Máquinas e Equipamentos - 08h





Workshop de Atualização em Segurança do Trabalho - 08h


Informações em:
e-mail: treinamento@admcweb.com.br
Tels: (91) 3033 4988  /  8220 1992

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM NOSSAS CIDADES ?


A população brasileira tem sido invadida por tragédias em nosso país, seja, pelos jornais, pelos noticiários televisivos, pela internet, pelas rádios, enfim em todos os meios de comunicação de forma a fazer um cerco, não só pela audiência, mas também por tentar despertar uma consciência de cidadania, ou outro interesse que não podemos avaliar, mas é bom frisar de que nesses tempos os desafios são outros. 

Diferente de outros tempos, onde a imaginação das pessoas é que era a verdadeira imagem deste filme, nos tempos atuais tem sempre uma câmera posicionada num local estratégico, que nem George Orwell (1984) faria melhor, em que é possível ver o que aconteceu na hora e com um depois recheado de imagens, inclusive com imagens dos transeuntes via celular (a tecnologia ajuda). Assim é possível ver gente correndo, gente desesperada, gente com ausência de ação sem saber reagir aos fatos, rostos em pânico e gente sem acreditar no que está vivendo. 

A cidade do Rio de Janeiro tem sido o principal palco destas tragédias, através de bueiros explodindo, restaurante que explode, prédios desabando, só para falar dos mais recentes. Digo isto porque tivemos o desabamento da Linha 4 do Metro próximo a Marginal Pinheiros com óbitos, e a recente explosão de bueiro na cidade de São Paulo/SP, queda de edifícios em Belém/PA e em Recife/PE, incêndios em diversas cidades, como o do Centro de Convenções da Bahia em outubro de 2011, além de outros acidentes impactantes, que seria lugar comum ficar citando, até porque nem se fala mais deles, digo isto porque, por exemplo, quase ninguém mais se lembra do incêndio do Gran Circus Norte-Americano, uma semana antes do Natal de 1961, que deixou cerca de 500 mortos e 120 mutilados, na cidade de Niterói/RJ. Hoje alguns relembram do fato, isto devido cinquenta anos depois, o escritor Mauro Ventura que pesquisou sobre o maior incêndio do Brasil e lançou o livro “O espetáculo mais triste da terra”.



Figura: Capa do Livro “O espetáculo mais triste da terra” 


A tragédia deste início do ano no Rio de Janeiro com o desabamento de três prédios na Cinelândia bem atrás do Teatro Municipal foi um evento que tomou todo mundo de surpresa, gente aflita, muita tristeza, gente que viu anos e anos de luta irem embora em segundos, gente que não sabe mais onde irão trabalhar (não existe mais o local), gente que perdeu a paz e que está emocionalmente dilacerada, e que está com um grande vazio no coração. Esta dor para quem viveu esta tragédia, vai ficar para sempre como se alguém tivesse feito uma tatuagem, que não se consegue apagar. 

O que iremos aprender com tudo isto, como dirá o Kletz- O que houve de errado?, primeiro vamos buscar uma explicação pro ocorrido. 

  • - Por que o acidente ocorreu à noite? Se fosse de dia a tragédia seria muito maior, o número de óbitos cresceria exponencialmente. 
  • - Por que alguém que busca abrigo num elevador de porta aberta, e sobrevive? Isto contraria todas as orientações de segurança que são repassadas pelos profissionais da área. 
  • - Por que o prédio foi tendo sua lateral afetada por janelas e ninguém notou isto? A área é uma das mais movimentadas do Rio de Janeiro. 
  • - O que existia ali antes do prédio ser construído? 
  • - Qual o impacto que as obras do Metro causaram na edificação, que tinha mais de 50 anos? 
  • - Qual o impacto que a movimentação do Metro causou as fundações do prédio? Ele fica entre duas estações, a da “Cinelândia” e a da “Carioca”. 
  • - Até que ponto as obras do terceiro andar e do nono andar impactaram para a queda?. 
  • - Por que não se tomou providencias quando o Zelador apontou rachaduras e falhas no prédio? 
Poderíamos ficar citando outros questionamentos, mas vamos deixar isto com quem está investigando. Algo que merece destaque é um registro fotográfico que saiu no site do Estadão. Veja as fotos:

Data: 09/04/2001

Data: 20/04/ 2010

Data: 24/01/ 2012


"Texto: Imagens do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, vizinho aos prédios que desabaram, feitas em 2001, 2010 e 2012 pelos fotógrafos Wilton Junior e Paulo Vitor, mostram que um dos edifícios tinha várias janelas em paredes que originalmente não teriam aberturas externas."

Diante dos fatos num primeiro ímpeto podemos pensar que houve omissão do poder público, que os moradores violaram regras e não contrataram Engenheiros Civis para avaliar as mudanças que queriam fazer, ou mesmo que falta mais informação às pessoas para que com um conhecimento básico de segurança, possam apontar falhas que começam pequenas e depois são ampliadas. Mas a questão é mais abrangente que isto, essas coisas precisam ser corrigidas, mas precisa haver uma consciência melhor sobre as cidades. Sobre o que se faz com ela e qual o nosso estado de vigilância, para que esses acidentes não voltem a ocorrer. 

Em 2012 teremos eleições para Prefeito e Vereadores verifique qual a proposta de cada um, qual o olhar que eles tem sobre a cidade que você mora, é necessário investir mais num censo fotográfico das edificações existentes, para que se tenha uma base para fazer comparações, a obrigação do EIA – Estudos de Impactos Ambientais para obras do tipo Metro, canalizações de gás, dentre outras. Além do que precisa haver uma capacitação com formação e informação permanente para o atendimento à essas tragédias, além de uma vigilância constante, e caso necessário intervenções sistemáticas. O olhar sobre a cidade é contínuo e requer uma visão holística dos problemas a serem enfrentados. 

Eu tenho rezado todos os dias para os que se foram nesta tragédia e para os que ficaram. Este texto também é uma forma de oração. 

Traduza este texto para sua realidade e faça comentários eu gostaria de recebê-los. 

Abraços 

ARmando Campos